Grupo de Pesquisa
Gêneses e Desdobramentos da Modernidade

Em que medida teria sido a Modernidade um fenômeno plural e descontínuo – não reticular - que ainda influenciaria e formaria, de maneiras diversas e por vezes antagônicas, o que se costuma designar de Contemporaneidade?
Gêneses
Se Modernidade significa “ruptura”, onde situá-la na história da filosofia? Teria a Modernidade apenas um início especifico, ou seria ela um fenômeno composto por diversas origens ou gêneses? À essa questão, os filósofos e historiadores da filosofia responderam de diversas maneiras. Conforme a via interpretativa adotada, a Modernidade encontraria sua gênese na revolução cientifica, despertada pelo heliocentrismo copernicano (Koyré), na ressignificação unívoca do sentido do “ente” operada por D. Scot, G. de Ockam, G. de Rimini e F. Suarez (Lima Vaz), na retomada do ceticismo antigo oriundo da reforma protestante (Popkin), na “descoberta” do Novo Mundo e seu impacto na reelaboração do argumento antropológico (Marcondes), no humanismo cívico italiano e a noção de Estado que reformula (Skinner, Pocock), no individualismo possessivo de Hobbes, Locke e Stuart Mill (Macpherson), no cogito cartesiano (Hegel) ou, ainda, no projeto crítico kantiano (Habermas), com o ethôs de ontologia crítica do presente que inaugura ao responder à questão “Was ist Aufklärung?” (Foucault).
É mister salientar que mais do que propor uma nova hipótese acerca das “gêneses da Modernidade” (Gandillac), o grupo de pesquisa GDM pretende mormente adotar uma postura comparativista e/ou perspectivista pondo em diálogo teses distintas propostas por autores, considerados modernos, em torno de um mesmo conceito, tema ou questão filosóficos. Noutras palavras, perguntamo-nos de que modo pensadores, que de alguma maneira participaram à formação daquilo se apelida Modernidade, convergem e divergem acerca de problemas semelhantes.
A título de exemplo, nossos pesquisadores se esforçam em responder a perguntas tais como: em que medida a “condição humana” proposta por Michel de Montaigne tanto se aproxima, como se distancia da “dignidade humana” definida por Pico della Mirandola? Qual seria, de modo preciso, a filiação conceitual entre o ceticismo renascentista e o cogito cartesiano? Em que medida o conceito de História proposto por Giambattista Vico contrapõe-se aquele pensado por Nicolau Maquiavel?
Desdobramentos
Para além das gêneses da Modernidade e das diversas vias que trilharam seus filósofos, também atentaremos para seus efeitos e desdobramentos na contemporaneidade. Se, como o sustenta Maurice de Gandillac, a Modernidade teria sido um fenômeno plural e descontínuo, perguntamo-nos em que medida esse fenômeno plurívoco (“as modernidades”) ainda influenciaria e formaria, de maneiras diversas e por vezes antagônicas, o que se costuma designar de Contemporaneidade? Tratar-se-ia, desta feita, de identificar e de medir, de modo possivelmente crítico, as atuais consequências epistemológicas, antropológicas, éticas, existenciais políticas ou, ainda, geopolíticas das teses sustentadas pelos modernos e das quais somos herdeiros sob tantos aspectos.
Atentos aos resultados das pesquisas atuais que giram em torno dessa herança, nossos pesquisadores tencionam, por exemplo, situar-se em debates que levantam questões tais como: Em que medida a “experiência de si” operada por Montaigne nos levaria, como propõe Telma Birchal, a pensar a questão da subjetividade para além da chamada “crise do sujeito”? A luz de Thomas Hobbes, a exceção suplanta a regra (W. Benjamin) ou, inversamente, a salvaguarda (C. Shmitt)? René Descartes, precursor da etologia animal? De que modo, na esteira de Aimé Césaire, reconciliar a fé proclamada no homem moderno e a leviandade com a qual se sacrifica a vida, o trabalho dos colonizados e seus modos de significações? Fanon, leitor de Sartre ou Sartre, leitor de Fanon? Em que medida, como o propõe Phillipe Descola, pensar para além de Natureza e Cultura? Que universalismo para os Direitos Humanos ? Afinal, nos termos de Bruno Latour, já fomos algum dia modernos?